sexta-feira, 6 de março de 2009

Diabo

João Antonio passara a vida em gabinetes. Dava passos lentos e bem planejados, pois no serviço público se via cercado por serpentes que a qualquer momento poderiam lhe dar um bote fatal. Por todo esse stress, quando a aposentadoria lhe bateu a porta mudou-se para uma cidadezinha do interior buscar pela paz almejada.

Na pequena cabana no pequeno sítio ele podia curtir a seus hobbys, absorvendo todos os livros não lidos, escrevendo, pintando suas obras de arte, e curtindo a saudade solitária da esposa que oo deixara. "por quenão vim antes..." pensava ele todos os dias.

Mas numa dessas noites sombrias, quando até mesmo a lua esconde-se por medo dos que vagam, ele recebeu uma inesperada visita. Um homem de estatura alta e esguia, vestindo negro, com um boné de pano, e uma pistola em punhos. "Mãos para o alto..."

Antes fosse um ladrão em busca de dinheiro, ou das armas que colecionava. "O que você quer... pode levar tudo..." disse a vítima gaguejando cada palavra proferida.

"Fique quieto. Faça apenas o que eu mandar." Disse J. dando ordens claras, e sacando de um dos bolsos do sobretudo que vestia, um cachimbo de lata, e algumas pedras. "Vamos fume tudo isto... Senão estouro seus miolos..."

Mesmo tendando ponderar,não sobrou ao aposentado outra alternativa que não fosse inalar a fumaça da morte... J. observava-o com um olhar cínico e satisfeito, e a cada vez que o velho tentava parar o cano da pistola ficava mais perto de seu rosto a ponto dele sentir o cheiro da pólvora. J. apenas ria, e quando o velho caiu no chão infartando pela overdose, J. chegava a um prazer semelhante a um orgasmo com as prostitutas que costumava visitar.

Morto, a fisionomia serene do velho dera lugar ao terror paronóico, revelado por suas púpilas dilatadas. Cuidadosamente, J. tirou as roupas da vítima, queimando-as na lareira. Foi até o fogão,onde numa panela velha preparou um líquido a base de corante de páprica.

Foi até o pátio onde deixara escondido um material de forte odor. Numa tigela com alcool etílico diluiu a mistura, pestiando o ambiente com o insuportável odor de ovo podre. Com a tinta preparada, banhou o corpo do falecido, e esperou secar, e ver o tom vermelho-alaranjado que ficara o falecido. Com a paciência que lhe era característica foi embora apagando os vestígios de sua presença.

No dia seguinte, um peão encontrou o corpo, e logo se espalhou pelo vilarejo a visita do Diabo ao velho joão. "Nem mesmo as pessoas de bom coração estão livres do capeta." dizia uma das beatas durante seu velório.

Nenhum comentário:

Postar um comentário