sábado, 12 de setembro de 2009

O Contato

Não há paisagem mais bela que o coração do Rio Grande. Principalmente naquele cantinho de cidade, cujo nome não soa bem, e que muito se distancia de pântano. É o meu sítio, modesto, pequeno, mas que noutra parte, beleza de céu não existe. Os altiplanos que me cercam, formam uma abóboda estrelada, cuja noite limpa revela toda a magnitude de um universo, onde somos miniaturas. É verão, e faz calor...

que se alivia com a brisa que toca o rosto, enquanto olho para cada ponto cintilante, como se buscasse qualquer resposta. Não há luar, tampouco nuvens. Apenas a imensidão, e as estrelas que a firmam. As folhas da uva-do-japão dançam vagarosamente, com um vento incapaz de despentear-me. Trago um gole da cerveja posta aos pés da cadeira, e relembro de Jane. Linda mulher... Linda mulher... Mas um clarão furta-me doce lembrança. É um risco que rasga a tranquilidade da paisagem cuspindo línguas de fogo. Meus cabelos negros esvoaçam ao vento provocado por tal fenômeno. O raio incandescente tem seu fim ao encontro de um bosque, na parte baixa de minha propriedade. Terá sido algum avião, caído como um pássaro atingido? Pergunto-me. Empunho a espingarda e uma lanterna. Jagunço, meu fiel amigo de quatro patas segue-me. Preciso ver o que se trata, e mais do que nada ver se posso auxiliar, seja o que for que tenha se espatifado em minhas terras. Uns oitocentos metros em declive nos separam. Uma caminhada de seis ou sete minutos em passos largo. Ao me aproximar vejo que fagulhas consomem as folhas das árvores que serviram de leito aos acidentados. O cão brada... Fica arredio, e sem mais nem menos ameaça recuar... O terreno está ferido... A terra atingida forma um ninho forçado pelo objeto que se entranhou em seu leito... Meu amigo, relutante, agora tenta impedir-me de continuar. Que espécie de homem seria eu, se o obedecesse? Subi pela elevação formada. O chão estava quente. A fumaça tomava rumo ao céu... Ao atingir o ápice de altura, um buraco de dezenas de metros de diâmetro apresentava-se. No seu interior uma aeronave que jamais vira na televisão estava em chamas, mas surpreendentemente inteira. Algum experimento americano. Concluí. Um impulso humanitário fez-me passar sobre meus medos, e ir até ela socorrer seus pilotos. Por sorte, poderiam ainda estar vivos. Uma porta entreaberta deu-me acesso á aeronave. Era de um tamanho incomum. A galeria era maior que minha casa. Com passos lentos e delicados caminhei por seu corredor metálico, até apresentar-se a mim, a sala de pilotagem, onde três pilotos agonizavam... Produziam eles um odor fétido. Daí a repulsa de meu amigo, com olfato mais sensível. Eram criaturas horrendas que guiavam tal aparelho. Cada um possuía três pernas, cinco braços, uma cabeça ornada por um único olho enorme, e seus trajes violentados pelo choque revelavam sua pele escamosa e prateada... Mais não conseguirei descrever. Quando um deles apontou-me, com um de seus braços esticados apontando em minha direção, meu coração já atemorizado, entrou em grave conflito, sem saber se aquele gesto significava uma sentença, ou um pedido de ajuda. Na dúvida gastei cada cartucho de minha espingarda em suas cabeças, explodindo-as como frágeis melancias. Só parei de atirar quando tive a certeza que estavam todos mortos, e que eu enfim estava salvo.

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