sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A batalha dos miseráveis contra os que não querem morrer...

Cleucimar. Mas melhor chamá-lo de Doutor. Era desta forma que os miseráveis o viam, embora, fosse ele da mesma carne, da do mesmo ralo social que seus admiradores. Mas, mesmo nos piores dos submundos, líderes surgem, e ao passo que aumentam seus seguidores, as coisas começam a mudar. O ano era o de 2.200, e São Paulo não mais era uma metrópole, e sim uma grande lixeira, repleta de miseráveis, e sua selva de pedra, deteriorada, e coberta de liquens e musgos. Apenas á escória da nova sociedade conseguia habitar aquele local fétido. Não fazia muito o mundo mudara. Os homens não morriam, graças aos avanços nas pesquisas com células-tronco que podiam renovar a qualquer momento a parte do corpo que fosse. Para morrer, só mesmo um desastre, pois tudo poderia ser regenerado. Inclusive a engenhosa máquina chamada cérebro que foi mapeada por completa por volta de 2.050. Obviamente tais recursos avançados estavam ao alcance apenas de uma minoria privilegiada financeiramente, que foi isolando-se em sociedade avançadas, autônomas, e distante dos miseráveis, que já não tinham mais emprego, dinheiro, cidadania... Não demorou muito para parlamentares, logicamente integrantes da nova humanidade, classificar os miseráveis como selvagens, relegados a própria sorte, sem infra-estrutura alguma. Os novos humanos, formados pela face mais egoísta do ser humano, permitiam ao seu convívio apenas quem lhes fosse conveniente, e que não pudessem ser substituídos por máquinas com inteligência artificial. Assim nessa nova sociedade, nada se renovava, a não ser a tecnologia. Em cinco anos uma lei foi imposta proibindo a procriação entre os novos homens, pois não era mais necessária uma nova vida para manter a linhagem, já que estes eram imortais. No entanto, uma preocupação passou a afligir diuturnamente estes notáveis: A proliferação dos miseráveis era gigantesca, e para esta nova raça nobre, o planeta não conceberia duas espécies humanas, pois mesmo com um maior cuidado ambiental, nos territórios de população miserável eram estratosféricos dos números de dióxidos de carbonos lançados ao ar. A solução, sinceramente, não me trouxe surpresas para uma linhagem que outrora conheceu Alexandre, Césares, Calígula, Hitler, Bush, Saddam, entre tantos outros mestres da guerra... Exterminar os miseráveis. Esta era a solução mais apropriada, tendo inclusive o respaldo do conselho de segurança da ONU, ocupada por diplomatas imortais, e vitalícios em seus cargos; Neste contexto, Nasceu o Doutor, que aos seus quase trinta anos, mas que aparentava uns cinqüenta. Fato comum entre os miseráveis. Nunca poderemos saber como nasce uma liderança, mas o fato, que uma palavra aqui, outra ali, ao se redor uma centena de miseráveis compartilhava mesma idéia, e mais por um instinto de sobrevivência, que por disputa de poder, o extermínio promovido pela nova humanidade não lhes era simpática. 07 de agosto, de 2.200, às 19h01min, de uma noite cinzenta e ácida nos subúrbios dos muros da Nova São Paulo, habitada por pouco mais de trezentos mil privilegiados, com as mais modernas tecnologias de bem viver. Os guardas, não temiam perigo algum, e seus serviços basicamente traduziam-se em expulsar dos arredores os miseráveis que tentavam se aproximar em busca de alimentos. Portanto, no alto da arrogância de seus líderes jamais podiam supor uma rebelião coordenada, por seres insignificantes e incapazes de pensar; - Atacar! Vociferou o Doutor. As centenas que o seguiam partiram num ataque feroz, com antigas armas a base de pólvora, e não deram tempo de se carregarem os lazeres dos guardas. Furados a bala e chumbo, e com as cabeças cortadas a facão, a nova humanidade se mostrava frágil, e o Doutor iniciava guerra que sequer ele sabia o tamanho das proporções que tomariam. Em seus olhos viam apenas as imagens conturbadas de seus companheiros miseráveis sendo exterminados pelo gás mortal jogado pelos que não morriam. Cada grito de dor, das cólicas que os infernizavam antes da morte, era o estímulo para os golpes empregados pelo Doutor, que tinha já naquele momento o corpo coberto pelo vermelho do sangue... Como animais os tratavam... E como animais acuados aquele bando de miseráveis agia. Não sossegariam até que o último imortal sucumbisse à morte, e enfim descobrisse que por mais inteligente que se seja ninguém escapa do juízo final... Ninguém...

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