quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A nuvem

De meu gabinete no segundo andar, as flores artificiais descoloridas pela ação do tempo, e o tripé que ostentava as três bandeiras, do Brasil, do estado e do município, não impedia que pelo parco espaço possível na janela eu visse a cidadezinha descerrar-se pacata e melancólica. São casas simples que compõe minha visão. Rasteiras, com telhas de barro, e no máximo seis ou sete sobrados, num total de umas cem construções. O bairro é um dos mais tranquilos, e um grande espaço vazio, terrenos de um homem falecido ainda encontram-se virgens, sem qualquer moradia sobre eles. Noutros lugares, já estariam invadidos, mas ali não. As árvores desenhavam uma linha horizontal, fazendo com que o verde tocasse o azul anilado daquela bela manhã. Neste cenário, o único objeto a dispersar dos demais, eram as antenas de retransmissão dos canais de televisão, que rasgavam o azul, constituindo-se nas peças mais altas que integravam àquele cenário nostálgico. Distraído, ou talvez hipnotizado, fixava meus olhares à maior árvore que se erguia na parte alta do bairro. Um pinheiro, que pelos quinhentos metros que nos distanciavam não pude distinguir se possuía pinhas. Era uma árvore notável. Absorto, nesta visão central não percebi que pelas bordas da janela, nuvens negras se aproximavam. Não era uma nuvem comum. Densa, escura, movia-se com estranha velocidade. Não trazia trovões, apenas um zunido ensurdecedor, que ao passo que se aproximava, mais alto rompia nossos tímpanos. Foi exatamente o que aconteceu comigo, senti meus ouvidos estourarem, e a partir deste momento não ouvi mais nada. Apenas sentia minhas carnes sendo carcomidas pelos estranhos insetos do tamanho de minha mão, e que formavam tal nuvem. Eu devia ter fechado aquela janela.

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