segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A criação dos Soldados Aho's [Do fantástico mundo de “Os Sete Guerreiros”]

As montanhas Tau fedem a enxofre. Do cume sai à fumaça fétida que inunda o sopé e os vales que a circundam. Nada lá cresce, a não ser é claro os espinhosos pinheiros. São árvores com mais de doze metros de altura, de tronco disforme, adornados de espinhos pontiagudos e doloridos. Nestas montanhas de cavernas sombrias, é o lar dos Aho’s...

O primeiro monstro nasceu do amor de um Deus, e de uma mulher. Este tipo de romance é uma incógnita, um coquetel de emoções e sentimentos, que na pior das hipóteses pode criar tais tipos de criatura. Cara de carneiro, presas afiadas, forma humana, e força incrível foi o resultado da mistura genética. Algo temível, sem dúvida.

Pois bem, assim nasceram as primeiras linhagens dos Aho’s. O terror dos caçadores, que só aventuravam-se nas montanhas pelo preço valioso dos pêlos de Gigamontes. Mas vez por outra um era devorado pelas criaturas das montanhas. O Aho’s eram canibais.

Até aí, claro apenas uma lenda, uma história que se perpetuava pelas montanhas Tau. Porém a guerra avançava na Terra Intermediária, e outro estranho ser peregrinava pela montanha. Não era homem. Um misto de macaco, e peixe. Não era mais belo que os Aho’s, mas muito mais poderoso. Detinha sob suas mãos a vida e a morte. Luison, era seu nome. E ele tinha uma missão. Levava consigo um grupo de onze homens, armados, e nada perigosos, pois temiam aos Aho’s como os vampiros ao alho.

- Sigam-me seus idiotas. Dizia o líder. Estão logo ali. Luison era um dos principais consultores do Rei Meriáth, a quem obedecia como um cão ao seu adestrador.

A noite descia sobre o grupo. As corujas e os morcegos saiam de suas tocas. Lobos uivavam no vale, e a silueta dos peregrinos contornava o lado norte da montanha. A lua lhes parecia próxima, e os homens não tinham mais resquícios de urina em suas bexigas desde que passaram a ouvir os berros “Ao Ao. Ao Ao”. O som era estridente, como uma taquara rachada. Só de ouvi-lo podiam sentir a dor das presas de marfim lhes arregaçando as carnes. Os Aho’s não eram piedosos.

O grupo sabia que estavam cada vez mais próximos. Podiam ouvir o estalido de seus pés nas folhas secas dos pinheiros. Andavam em círculo, rodeando o pequeno e amedrontado grupo. E o círculo fechava seu diâmetro a cada berro. Um dos homens não agüentou, e defecou em suas próprias calças.

Um bufo como mil touros fez com que outros cinco passassem pelo mesmo susto. Mas não assustou a Benitez Cavaco, soldado da infantaria de Meriáth. Ambicioso ele sabia que uma boa demonstração na montanha lhe poderia ser útil em suas intenções de progresso no exército. Esgueirando-se entre pedras, e a própria besta, ele lançou seu arpão com a rede de fibracita, tecido inviolável. O animal enredado na armadilha tombou, e gritava. “Ao Ao.”

O ser animalesco se contorcia como lombrigas tentando a fuga que já não lhe era possível. Luison se aproximou. – Tragam-me o caldeirão, e minha sacola de couro. Era um mestre de muitas sabedorias o fiel conselheiro de Meriáth, e quando a sacola abriu-se estranhos artefatos lhe foram arrancados. Ossos, punhais, e um pequeno saco com barro, e um jarro com água. – Atem-no. O animal foi preso num tronco de pinheiro. Continuava berrando.

Por ordem de Luison, os homens atearam fogo na fogueira, e sobre ela repousaram o grande caldeirão. Ele jogou dentro dele a água, e o barro, que multiplicou por mais de dez vezes. Quando as borbulhas da fervura iniciaram, jogou ingredientes estranhos aos homens que assistiam a cena. Com o punhal ele se dirigiu a besta acuada, que já cansava de berrar, mas que instantaneamente voltou a fazer quando o punhal abriu-lhe um rombo nas costas. Com as mãos Luison retirava tecidos da fera, e jogava-os no caldeirão. – Alep aigam coluta ad revats mosibras, ue so ceriro moc redop o idav e ad retom! Disse o bruxo num dialeto esquecido.

A fervura aumentava. O líquido engrossava como o caldo de uma sopa. E do caldeirão, para os olhares atônitos dos homens, um ser se recriava, lentamente até sair do fogo com suas próprias pernas. Uma cópia perfeita da besta presa, exceto pela falta de brancura nos olhos, e pela subserviência ao mestre das ciências ocultas que continuava a retirar tecidos de seu prisioneiro. – Tragam mais lenha seus abobalhados! Ainda faltam nove mil novecentos e noventa e nove!

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