quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

2.499 - Uma visão futurista

13 de novembro de 2.499. Em Porto Alegre, está calor, mesmo ainda sendo primavera, a estação das flores e dos coloridos ipês que transforma o parque da redenção numa tela valiosa. No complexo residencial Alpha, Jason Prates é despertado pelo som suave em sua mente. São 06:00 da manhã. A janela virtual na parede de vidro se descerra permitindo a luminosidade da manhã penetrar em sua casa. Ele está feliz. Abre seus olhos, espreguiça-se, e toca de leve em J-35. Ela esta inerte sobre a cama. Nua. É um robô, tão perfeita, que não soubesse ele se tratar de uma máquina, não acreditaria. Mesmo desligada, há pulsação. Há calor. Foi uma noite inebriante...

Em tempos remotos ele seria um pervertido. Ter uma máquina apenas para o prazer sexual – se bem que J-35 era um modelo bem mais avançado e que cuidava de todos os afazeres domésticos, fato pelo qual alguns saudosistas a chamavam de Amélia – porém não lhe era uma excentricidade, ou tara naqueles modernos tempos, e sim uma necessidade. Há muito tempo, desde, que as mulheres descobriram que o homem não era fundamental para a procriação, e passaram a preferir outras mulheres, havia poucas alternativas. As fêmeas praticamente em totalidade aderiram ao lesbianismo. Se bem que grande parte dos homens quando isto ocorreu, eram homossexuais. Assim, como Jason, restou cerca de um terço da população de homens, uma grande fatia de mercado para os fabricantes da J-35.

Enquanto ele se dirigia ao banheiro, ordenou através de seu chip ligado as linhas neurais de seu cérebro com comando via wireless para que o integralizador de alimentos providenciasse seu café da manhã. Escolheu torradas, e chá verde. A máquina começou prontamente a ler os códigos binários arquivados em sua unidade de processamento, e iniciou a leitura e integralização da solicitação de Jason. Enquanto isso ele escovava os dentes, sentava no vaso e assistia na tela de cristal líquido que compunha o box, as informações dos jornais da manhã. Falavam de algum distúrbio em São Paulo, que desde a sua decadência e da invasão das águas era habitada por deportados.

Lavou-se, e quando se sentou à mesa a torrada e o chá emanando uma fumaça quente o aguardavam. Com o desjejum feito, vestiu-se. O dia seria de agenda cheia. Haveria uma reunião em Roma. Dirigiu-se até a cápsula de aerotransporte acoplada à parede de seu apartamento, e acionou a partida. Enquanto a esfera de cristal e circuitos elétricos viajava cortando o ar, no piloto automático, no menu sensível ao toque, ele selecionou a opção refletir, e observou como Narciso, seu rosto no espelho. “Nossa, como sou bonito!” pensou. Na verdade, não estava nada mal. A pele lisa, de cor clara, seus olhos limpos, sem sinais de cansaço, e sua vitalidade, embora não fossem nada anormal para um homem de meia idade, ele estava acima da média, e tinha certeza que no dia de seus 70 anos, bons negócios seriam concluídos.

A esfera acoplou no andar de seu próprio escritório. – Bom dia, Viviane. – A reunião com os italianos foi adiantada para às 09:00, senhor Prates. Ele foi surpreendido pela secretária eletrônica, um computador pessoal bípede. – Tenho que me apressar então. E saiu imediatamente para o andar onde ficava a sala de viagens. Sua empresa havia gasto uma verdadeira fortuna para a instalação das T.Mach’s. Cinco equipamentos para tele-transporte de dados brutos e biológicos. A invenção do século segundo a Time de 2.489. Na verdade a T.Mach’s digitalizava as informações escaneando o que dentro dela estivesse, e depois as repassava paras as T.mach.d que liam as informações, e as reproduziam fielmente. Todo o processo de scanner, transmissão de dados, e recomposição levava cerca de uma hora, portanto Jason Estava atrasado.

Para que o sistema funcionasse, corporações ou órgãos públicos adquiriam as T.mach’s, já as principais cidades do mundo construíram terminais com as T.Mach.d, e assim as viagens internacionais foram facilitadas. Na época da criação do sistema, e após cinco anos de uso com total sucesso, e com a inexistência das variantes que no início causaram alguns acidentes, o Tele-transporte substituiu a aviação civil, e finalizou de vez com os acidentes aéreos.

Depois de vinte minutos a máquina leu todas as informações necessárias, e enviou os dados para a estação de Roma, que prontamente na cabine 101 iniciou cópia dos dados recebidos. Na verdade Jason não viajou. Suas informações numéricas, apenas chegaram á Roma. Uma cópia exata do corpo que controlava o Avatar ou clone como diziam alguns, de sua segura cabine em Porto Alegre. Pela rede transmissões nervosas de Jason Viam o que seu Avatar em Roma enxergava. O Avatar era totalmente submetido aos comandos do arquivo original, graças a um código inserido automaticamente nas informações transmitidas para as máquinas de recomposição de dados. Jason não se atrasou para o encontro. E talvez por causa de seu pensamento positivo, efetuou uma venda considerável. Terminada a sua missão o Avatar de Jason dirigiu-se uma T.recycler, e se autodeletou. Jason era muito pragmático e, raras vezes levou suas cópias para visitações e turismo.

Terminada a missão, voltou ao seu escritório, onde conectou o cabo USB ao seu banco de arquivos, e arquivou os dados em vídeos da viagem. – ÀS 12:00 horas o senhor deve estar na clínica do Dr. Morethi lembrou-lhe a secretária. No horário marcado ele estava lá.

- Bom dia doutor.
- Como estamos hoje, meu caro amigo.
- Um pouco cansado por causa de uma viagem à Roma.
- Entendo.
- Foi uma boa reunião.
- Negócio lucrativo então, se bem lhe conheço.
- Digamos que não foi tão mal.
- Continua modesto e chorão, mas vamos a nossa consulta. Com tem se sentido?
- Tudo normal.
- Então faremos os exames de rotinas. Por favor, encoste o dedo. Jason pôs seu dedo num nano-agulha que coletou seu DNA e repassou as informações instantaneamente para o desktop do médico.
- É sua saúde ainda está forte. Pelo que vejo teremos pouco a fazer. A não ser que você queira algo mais incisivo.
- Estou pelo senhor.
- Desta vez trocaremos poucos órgãos. O coração deixaremos para o próximo triênio. Acho que apenas o pulmão merece uma reposição, talvez o pâncreas... Pelo visto tem visitado alguns lugares poluídos... e Comendo o que não deve.
- O senhor está sempre certo.
- É mas não porque podemos trocar nossos órgãos e tecidos que se deve exagerar, meu caro.
- Eu sei...
- Bem, podemos fazer estas reposições hoje pela tarde, á noite, estará liberado.
- Hum! Pode ser me preparei para isto...
- Então vou repassar as ordens para os enfermeiros.
- Doutor...
- Sim?
- Se não for abuso, posso trocar também o fígado... É que irei a algumas festas neste final de semana... E sabe como sou exagerado, às vezes. Um fígado novo é mais forte...
- Pois bem, falamos isto também... Continua o mesmo levado de sempre.

Os dois riram.

- Bem, que tal almoçarmos, enquanto a equipe prepara o material... Sempre leva um tempinho até os órgãos serem recriados.
- Aceito o convite, mas o senhor paga a conta.
- Não se preocupe. Já está incluída no preço da consulta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário