quinta-feira, 22 de maio de 2008



Maicom vivia um terror particular. Não se lembrava de nada, nem ao mesmo de seu nome, e de quem era. Também não fazia a mínima idéia de como foi parar naquele lugar tomado pelas sombras. As copas das árvores altas como prédios não permitiam a entrada da luz, que o tocava em pequenos filetes, e exaltando a névoa que o cobria. Sentia frio, mas corria nu, completamente nu em meio ao bosque que o aprisionava. Sua mente não lhe permitia lembranças, ou a busca do passado, deixando-o num presente aterrorizador, embrenhando o home numa fuga constante.

Estava cansado. A transpiração de seu corpo, e o cansaço que transformava a carne de suas pernas em concreto eram sinais inequívocos que estava preste a sucumbir ao seu perseguidor. Mas quem, ou o quê o perseguia? Ele estava sozinho, se via sozinho, mas mesmo assim corria alucinantemente em busca de salvação. Sentia a morte transpirar em seu cangote, mas não sabia exatamente o quê lhe jogava em fuga desesperada pela sobrevivência. Acuado girava seus olhos em todas as direções, e a cada cinco metros fazia um ângulo de trezentos e sessenta graus buscando observar se a coisa que o atacava estava próxima. Sua respiração ofegava, ele pensava em descansar, mas uma força o mantinha no caminho.

Rodeado pelo silêncio e pela mata ele podia se lembrar apenas do período que recobrara a consciência. Ele já corria feito louco. Isto fora há no mínimo quatro horas. Quando seu cérebro impulsionado pela adrenalina repousava pelo mínimo instante que fora, ele orava, fazia preces para que o fim da floresta chegasse logo, e que encontrasse ajuda. “Meu Deus, onde estou. Juro por tudo que há de mais sagrado que nunca imaginei haver ainda bosque tão vasto como este”, pensava lentamente juntando um ou duas palavras.
Suas pernas emolduravam seu sofrimento, deixando escorrer o sangue, devido aos cortes e arranhões provocados pelos galhos, e espinhos. Tropeçou, escorregando em alto declive, embolando-se com terra e pedras, esfolando-se ainda mais. Além do medo, a dor não era mais suportável, e ele cogitava parar, e ceder à dormência de suas pernas, e parar ali mesmo deixando-se ser engolido fosse o que fosse seu inimigo. O bafo pútrido carregado pelo vento cada vez mais próximo, e ele prestes a tomar uma decisão. Deixar-se morrer, o seguir fugindo ao ermo.

A queda durou alguns minutos, estatelando o homem em areias macias. Ele podia ouvir o som das ondas raivosas de um mar revolto. Decidiu pela vida, e iluminado por uma ostentosa lua continuou sua fuga, deixando rastros sinuosos na areia...

Por Douglas Eralldo

Nenhum comentário:

Postar um comentário