quinta-feira, 18 de junho de 2009

O pescador

Mesmo que o feixe luminoso repentino tenha cegado João Valdir, ele seguia sua fuga entre arbustos, espinhos. Sua pele rasgada pelas armadilhas do campo expelia finos fios de sangue, deixando rubra sua pele clara.

Homem alto, magro, e pernas compridas, característica que lhe auxiliava durante a fuga, nunca imaginara que uma simples pescaria pudesse causar tantos transtornos.

Era sábado, dia de descanso na pequena fábrica, de uma cidadezinha encravada no coração no Rio Grande. Seus amigos jogavam futebol, os mais descompromissados iam ao baile, mas João gostava mesmo era de uma boa pescaria. O Arroio Tabatingaí era seu local preferido, onde apenas ele conhecia os melhores pesqueiros. Atalho certo para pescar traíras.

Homem de hábitos solitários trocava a mesa da bodega pelo anzol. Sempre sozinho. Naquela noite as estrelas cintilavam, e a lua, desnuda por inteiro, iluminava a paisagem, desobrigando-o do uso de lanternas.

Porém, nem a lua, ou tampouco o sol poderia criar tamanha luz. Quando o feixe violeta tocou a água, rápido como raio, o pescador percebeu tratar-se de algo anormal. Cegado pela luminosidade, e encharcado pela água, que respingava ao ser tocada pela luz, João pôs-se a correr, pois o medo agia como combustível para suas pernas.

O homem corria como uma lebre pelos campos. Cortando pequenos bosques de terreno úmido. Por vezes um passo mais firme, afundava-o no lodo. Mesmo ferido, e com todos os outros obstáculos que as proximidades do arroio lhe ofereciam, o cego pescador, lutava bravamente alcançar os que muitos tem e fogem: As sombras.

Seu grande desafio era ficar o mais longe possível a estranha luz violeta que o perseguia, arrancando árvores, trilhando caminhos... Ele era apenas um homem, para enfrentar algo tão sobrenatural. Ao contrário dos filmes que assistia a vítima não venceu no final. Seu corpo sumiu como a poeira se perde com o vento.

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