segunda-feira, 15 de junho de 2009

Telma & Jéssica

Exalava jasmins o quarto de Telma. Dia sete de outubro de uma sexta-feira rançosa, e gélida. Porém sob os edredons, a efervescência de corpos apaixonados transformava o pequeno espaço numa sauna. Não fazia muito que Telma se entregara aos prazeres de outra mulher. Não estava nem um pouco arrependida, pois seu antigo namorado, Hugo, o decepcionara por demasia.

Jéssica tinha cinco anos mais que ela. Experiente, tinha mãos atrevidas, que em pouco tempo conheciam cada parte do corpo de Telma, como ela jamais se conhecera. Seus músculos se contraiam a cada toque, sua pele tornava-se rubra pelo sangue vivo que corria ardente.

O porta-retratos caído sobre o bidê, e as roupas esquecidas sobre a cama, e espalhadas pelo chão do quarto mostravam a distancia que as duas mantinham do espaço físico. Seus olhos fitavam apenas um aos outros, seus lábios saboreavam apenas a pele da companheira, sorvendo o sabor de um amor pecaminoso e proibido. Telma ainda não havia assumido o romance, temendo a repercussão junto a suas amigas, e familiares. E isso começara á quase um ano.

Sugadas entre beijos e carícias para uma dimensão paralela, onde só os amantes se encontram, o mundo real deixou de existir por um momento. Dispersas, o vento repentino que começou a soprar do lado de fora da casa não foi percebido, mesmo que fizesse vibrar os vidros da janela veneziana. E não é qualquer vento, capaz de tal proeza. Tampouco a tonalidade de cor alterada da noite lhes chamou atenção. O crepúsculo de uma noite sem luz foi sugado por um tom violeta, tão radiante quanto os corações enlaçados naquele coito.

Um zunido, como a freqüência chiada de um rádio mal sintonizado, de quase imperceptível foi aumentando consideravelmente de volume, ao ponto que a luz violeta foi invadindo o quarto das duas amantes, sem respeitar a vidraça que a bloqueava. O quarto, que antes de luz tênue, para revelar apenas as siluetas formosas de suas moradoras, foi integralmente arrombado pela densa e misteriosa luz.

Quando Telma Recobrou por um instante sua consciência, sentia seu corpo sendo sugado. E não era ao clímax de um orgasmo, ou aos lábios de sua amante. Era uma sensação diferente, que jamais experimentou. Quando abriu seus olhos, havia apenas luz. Buscou olhar para seu corpo. Ele também não existia mais. E Jéssica também sumira.

Nada mais que um grito ecoou como ultima forma de eclodir sua energia, e tentar comprovar sua existência. Depois reinou o silêncio.

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