segunda-feira, 6 de julho de 2009

Fim.

Quando o televisor saiu do ar, jamais imaginávamos o tamanho do problema que recairia sobre este planeta e seus moradores. Sem sinal de telefone, ou de internet. Ou seja, tudo que dependesse de nossos modernos satélites estavam em pane, e o que deixava qualquer cidadão mais apavorado, era a falta de comunicação, e a ignorância do que acontecia. Mesmo que se nossos governantes tivessem tentado alguma forma de nos informar á calamidade que se debruçava sobre nós, não conseguiriam. Foram dias difíceis até o nosso fim. Sim, estamos todos mortos, inclusive o narrador que voz fala. Fui apenas indicado por um arcanjo para que deixasse esta mensagem, pois havia astronautas em nossa estação espacial, e quem sabe, haverá uma esperança na continuidade dos homens. Quando o sol desapareceu, imaginávamos algum problema com a grandiosa estrela. Enfim ela teria se cansado dos planetas que gravitam em sua órbita. Mas não era bem o que acontecia. Se não estou enganado, foram cerca de três semanas sem que a luz do dia radiasse o hemisfério sul. Depois dos primeiros dias, o temor passou a tomar conta de cada um ser vivente e pensante. O silêncio da Nasa era encarado com mau sinal por leigos como eu que esperavam trancados em suas casas por alguma luz sobre o que estava acontecendo no espaço sideral. Mas nenhuma palavra foi pronunciada. Na terra, tomados pelo desespero, saques, anarquia social, e tantos outros problemas faziam com que as forças militares tomassem as ruas. Mas aqui no Brasil, o exército não foi suficiente para controlar milhões de pessoas acuadas como ratos em sua toca. Eu tentei manter a calma, embora estivesse difícil de controlar. Quando os três ônibus espaciais americanos decolaram ao espaço, e concomitantemente coincidiu com o desaparecimento do presidente Barack Obama e sua família, ninguém mais conseguiu controlar os instintos animais reprimidos em algum lugar de sua mente. Do suicídio, individual ou coletivo, das pregações religiosas, e das inquisições em busca de culpados, das oferendas que remetiam a nossos tempos mais remotos... O planeta transformara-se num verdadeiro inferno. Por isso a pequena Pantano Grande não diferia do resto do mundo. Estavam todos loucos. Por dias fiquei com minha família, trancado dentro de casa e quando ela deixou de ser segura, entramos na camionete se seguimos para o campo. Até este momento meu coração cristão, tomado pelo instinto de sobrevivência levara-me a matar mais de cinqüenta lunáticos. As balas da pistola 38 escassearam com rapidez. Andamos por quase um dia inteiro. Apenas por estradas vicinais, e só paramos quando o combustível terminou. Estávamos longe de tudo. As crianças choravam, e minha esposa caía em desespero. Estava difícil manter a situação. Exaustos dormimos. Fui o primeiro a acordar quando uma das teias da criatura monstruosa atingiu o pólo sul, dizimando em poucos segundos cinco por cento da terra. O desequilíbrio alterou toda a gravidade, e a camionete flutuou por primeiro e em seguida foi nossa vez. Ainda deu tempo de cairmos novamente no chão, até que as patas da criatura, com um diâmetro de área equivalente aos estados do sul e do sudoeste do Brasil nos amassaram como se fossemos bactérias. Sempre pensava na grandiosidade do universo. Fazia parte de minha doutrina como professor de filosofia. Noutras buscava entender a arrogância humana frente a algo tão misterioso, já que sempre soube que não passávamos de uma pequena engrenagem num sistema monumental. Porém jamais poderia imaginar a existência de aracnídeo como aquele. Perdida no espaço, o primeiro ponto para ele se afirmar tinha de ser justamente nosso planeta. Talvez o monstro sequer soubesse o mal que nos cometia, mas a terra literalmente explodia a cada movimento seu. Talvez ele até tenha conseguido afirmar-se para buscar impulsão e voltar para de onde viera. Infelizmente não tenho tal resposta. Apenas deixo esta mensagem para caso tenha havido sobreviventes, para que no futuro tomem muito cuidado com aranhas espaciais.

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